quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O PARADOXO DA DUALIDADE E OS EXÚS.

 
 
O PARADOXO DA DUALIDADE E OS EXÚS.



Texto proferido na Sessão Mediúnica de 12/09/2014.

Sérgio Pereira.
 

   Provavelmente uma das manifestações divinas mais difíceis de entender é a dualidade. O pensamento ocidental, maniqueísta, calcado em valores devidamente distorcidos de acordo com interesses políticos e econômicos ao longo da História, estabeleceu um padrão de pensamento em que existem duas forças antagônicas: o bem e o mal, sempre em constante batalha pelo domínio do mundo e da alma de seus habitantes. Mas também é a luta entre a ignorância e o conhecimento, a luz e a escuridão, o verso e o anverso, o certo e errado, o direto e o esquerdo, a verdade e a mentira, Porém, tudo isso tem que existir entre os antagônicos para que o equilíbrio da vida se faça presente no universo. 
Assim, tudo que não segue a ética e a moral ocidental-cristã é imediatamente associado à sua antítese: as forças maléficas regidas por seres do mal, chamados de demônios. 
Esse tipo de pensamento traz em si um paradoxo, já que o próprio livro sagrado do cristianismo afirma que Deus é ONIPRESENTE. Por essa razão ELE está em todas as partes, sendo assim Deus estaria também nas regiões trevosas da espiritualidade – regiões que muitos tomaram por costume chamar de inferno. 
Então Deus estaria no inferno? Parece uma heresia total fazer tal afirmação, mas sendo Ele um ser ONIPRESENTE, deve (ou deveria) estar em todos os lugares. 
A crença de um inferno de penas eternas e governado por um ser excepcionalmente maldoso também faz parte do imaginário cristão e, dentro desse raciocínio contraditório, não haveria lugar para Deus nessa região – mesmo sendo Ele o todo Onipresente, Onipotente e Onisciente.
Dentro da filosofia que norteia o pensamento espiritualista, se descarta essa ideia de inferno, pois isso é um estado de espírito do ser humano, que plasma essa condição de existência. Portanto, admitimos a existência de regiões espirituais trevosas, densas, onde se encontra aqueles espíritos que não atingiram a elevação moral esperada, elevação essa que pode ser conquistada um dia, não necessariamente através de expiações, mas também do trabalho da sua reforma íntima nas várias e inúmeras oportunidades que lhes são oferecidas. No entanto, nessas regiões ainda reina uma espécie de barbárie espiritual, já que os valores morais de seus habitantes não são os mais elevados, necessitando assim de alguém que controle suas ações, não permitindo que outros planos (como a dos encarnados, por exemplo) sejam alvos dos ataques e obsessão desses espíritos e/ou seres pontualizados nesses lugares. É nesse contexto que começamos a entender o papel dos Exus, que pode ser espíritos de homens e mulheres, e mesmo sendo guardiões do Bem, são tão incompreendidos e injustiçados,eles  atuam como agentes da Lei e da Ordem dentro desse princípio da dualidade divina. 
Entender Exu é entender o próprio funcionamento da Lei Maior. 
Antes de qualquer coisa é preciso saber a diferença entre o Orixá Esu (sim, ESU Orisá é escrito com a letra S com um ponto embaixo) e o Exu castiço (esse se escreve com X, porque é de origem linguística brasileira), da Umbanda. (Castiço aqui quer dizer apenas o que entendemos por “entidade” ou “guia”)
A palavra Esu, que significa “Esfera”, remete aos cultos africanos e ao Orisá de mesmo nome.
Como bem sabemos, por diversos fatores históricos, houve no Brasil um processo chamado sincretismo, através do qual as divindades africanas foram associadas aos santos católicos. Assim, Iansã, por exemplo, que é a divindade dos raios e das tempestades, foi sincretizada com Santa Bárbara, já que essa santa também é associada aos raios e trovões. 
Ogum, o Orixá guerreiro, foi sincretizado com São Jorge, o patrono guerreiro e militar dos católicos, e assim por diante. No entanto, com o Orixá Esu houve, ainda dentro do sincretismo, um processo de demonização. Sendo ESU a divindade ligada à fertilidade, à sexualidade e à vitalidade – inclusive carregando, em suas representações, um cetro em forma de falo – e tendo uma personalidade um tanto semelhante ao humano, como nos contam as itans (lendas africanas dos Orisás), não tardou para que fosse associado ao demônio bíblico/católico, até porque tem que existir algo ou alguém para ser colocado a culpabilidade das desgraças e do errado. 
Assim, desde o princípio, Esu foi temido, levando-se em conta seu caráter irreverente. 
Apesar da confusão em torno da natureza de Esu, não podemos esquecer e nem desprezar sua importância dentro do panteão africano e de seu funcionamento, já que ele atua como “mensageiro” ou “intermediário” entre os homens e os Orisás. 
Nos cultos de Umbanda também encontramos Exu, porém não na figura de um Orisá, e sim de um espírito humano, um desencarnado, que viveu em Terra e conforme a sua aptidão e perfil engajou-se nas falanges espirituais onde procura, através do trabalho digno, alcançar o progresso moral. 
Ainda que associado a figuras demoníacas, o Exu da Umbanda é um valoroso trabalhador que, indiferente a essas interpretações calcadas em visões preconceituosas, segue perseverante no cumprimento de sua tarefa beneficente. Nunca confunda falange, espíritos e trabalho de Exú com "satanismo", são coisas extremamente diferentes. Se em alguma casa espiritualista professa contatos com forças demoníacas, pode ter certeza que não se trata de Umbanda ou qualquer coisa ligada a Exú. O culto de satanismo existe mas é uma expressão e vinculação com o lado obscuro da vida. Em muitas casas de princípio espiritualista há um arremedo muito superficial do chamamento e práticas satânicas. Mas isso é um outro assunto que não tem haver com quem quer estar no BEM MAIOR.  
O papel da Linha de Exu na Umbanda é de fundamental importância, entre inúmeras tarefas que lhes são atribuídas são eles que realizam a segurança da casa espiritualista, onde desempenham o papel de tronqueiros (guardiões). Imaginem, dentro do mundo da dualidade há aqueles que militam para o avanço do Bem, enquanto outros militam para o Mal, sendo assim, quantos kiumbas (espíritos trevosos e zombeteiros) atacariam um grupo ou instituição espiritualista a fim de atrapalhar seus trabalhos, se não fosse a presença dos Exus, mantendo vigília. 
Em casos de descarregos, também são os Exus os principais agentes, pois eles também acumulam a tarefa de encaminhar cada espírito, seja um pobre sofredor desorientado, ou um perigoso obsessor ao seu local de merecimento e/ou tratamento.
Exu também é o agente da justiça kármica, sendo sua tarefa levar a cada um o que lhe é de direito ou merecimento – por isso também a confusão em torno de seu caráter, já que ao coração humano é muito fácil aceitar o que é agradável, mas muito difícil entender que os revezes da vida muitas vezes são resultado de nossas próprias ações.
No mais o leigo ou o menos esclarecido a respeito sobre Exu, tende a colocá-los como figuras diabólicas, maléficas e esdrúxulas, justamente para meter medo nos outros e/ou povoar o mundo mental patético e fantasioso dos seus desafetos.
As falanges de Exús, se observarmos notaremos a pontual presença da etnia branca europeia constituindo esses grupos. São espíritos esclarecidos, de fino trato e gosto, mas claros e diretos em suas assertivas e atitudes, não fazem “gregre” para dizer Gregório. Contudo, são imitados e tem seus nomes usados por kiumbas que se utilizam da sintonia vibracional de determinados médiuns para assistências fúteis, calhordas e s com o Bem Maior.


Sérgio Pereira/Kajaide
Orientador Espiritual
Ano de Sángó/Obá/Lode
"SOU LUZ!"

HISTÓRIA/ROMANCE DO CABOCLO JUNCO VERDE

 HISTÓRIA/ROMANCE

 

 

CABOCLO JUNCO VERDE


Aquele que vive sob as águas e sobre as árvores!

  A história do Caboclo Junco Verde. Mas, antes de relatar sua história, queremos esclarecer sobre a planta que originou seu nome. O junco cresce abundantemente em regiões alagadas, como o Mar Mediterâneo, o Nilo e o Amazonas. Na Amazônia o junco (Juncus effusus) é confundido com o cipó-titica (Heteropsis flexuosa) e no Nordeste, com o rattan ou vime. Apesar de possuirem similaridades após a extração, as plantas pertencem a famílias diferentes da flora e possuem desenvolvimentos bem distintos. Enquanto o junco cresce nos alagados, o cipó desenvolve-se em terra firme, nas florestas. Após a colheita, as fibras secas possuem semelhanças e por isso existe a confusão de nomes. Como as plantas, em seu habitat são totalmente distintas entre si, torna-se necessário essa explicação para elucidar o porquê de seu nome. Esclarecido esse ponto vamos a história.
Esse índio nasceu na Região da Amazônia, no século XV, onde hoje dividem-se os estados de Roraima e Amazonas, na Tribo dos Wapixana (do grupo Aruak). Eles eram a maior poupulação indígena do norte do Brasil, um povo pacífico que evitava a guerra. Durante séculos, sua tribo foi atacada diversas vezes por etnias de outras áreas, principalmente pelos Karibs. Para defender-se dos ataques, eles subiam nas árvores mais altas e lá permaneciam por dias. Possuíam muita agilidade para escalar cipós titicas e para ocultar-se dentro da água usando os juncos como esconderijo.
Desde criança ele gostava de se balançar nos cipós titicas e mergulhar no meio dos juncos dos algados. A tribo dizia: "Esse menino parece um Nhun Bituva, um Nhun Peri (junco verde), ora pendurado nas árvores, ora escondendo-se nos alagados." E assim, ele recebeu seu nome: Junco Verde (Nhum Peri Bituva). Ele sabia trançar as fibras e fazer cordas, com as quais laçava os tatetos e os jacarés; era ágil para subir em árvores, armar redes e emboscadas. Quando sua tribo era atacada, ele usava o laço em armadilhas diversas para evitar a aproximação do inimigo. E assim Junco Verde cresceu e tornou-se um exímio caçador e um grande guerreiro. Casou-se cedo com "Irupé" (que significa Vitória Régia na língua indígena); ela era filha do chefe da tribo e eles tiveram três filhos - dois meninos e uma menina.
Nhum Peri Bituva e Irupé foram muito felizes por quase quinze anos. Mas, como nada dura para sempre, sua tribo foi surpreendida durante a madrugada por um grupo de índios desconhecidos para eles, os Astecas. Os Astecas eram totalmente vorazes e organizados em suas empreitadas. Dominavam as tribos mais pacíficas, derrubavam tudo o que encontravam pelo caminho e escravizavam outros índios. Irupé viu seu marido e seus filhos serem levados para serem oferecidos ao Deus Sol. Ela e sua filha pereceram em solo Wapixana, após serem brutalmente atacadas. Durante a marcha para o Império do Sol dos Astecas, Nhum Peri conseguiu libertar seus filhos e ajudou-os a fugir para mata. Mas, seu sacrifício lhe custou a própria vida, pois foi ferido por uma lança e depois esquartejado. Seus pedaços serviram de alimento aos cães que acompanhavam a procissão indígena. Os filhos de Junco Verde conseguiram embrenhar-se nas matas e foram acolhidos por uma tribo Maiongong.
No Plano Espiritual, Irupé, Nhum Peri Bituva e a filha, encontraram-se no Reino de Jurema. Juntos eles viram uma nova terra florescer e outros povos chegarem. Tornaram-se acompanhantes espirituais dos índios que pereciam em combate contra a própria raça ou contra os homens brancos. Muitos anos passaram... Irupé reencarnou na Europa para viver uma nova experiência. A filha renasceu em solo brasileiro e tornou-se uma das primeiras mulheres abolucionistas do Brasil. Junco Verde permaneceu trabalhando na Jurema e auxiliando a Aruanda de todos os povos. Quando a Umbanda surgiu como religião, Junco Verde foi chamado a contribuir com seu conhecimento e sua dedicação.
Caboclo Junco Verde... Aquele que vive sob as águas e sobre as árvores! Esse caboclo nos procurou e contou sua história, pedindo-nos sua divulgação. Mas, antes de relatar sua história, queremos esclarecer sobre a planta que originou seu nome. O junco cresce abundantemente em regiões alagadas, como o Mar Mediterâneo, o Nilo e o Amazonas. Na Amazônia o junco (Juncus effusus) é confundido com o cipó-titica (Heteropsis flexuosa) e no Nordeste, com o rattan ou vime. Apesar de possuirem similaridades após a extração, as plantas pertencem a famílias diferentes da flora e possuem desenvolvimentos bem distintos. Enquanto o junco cresce nos alagados, o cipó desenvolve-se em terra firme, nas florestas. Após a colheita, as fibras secas possuem semelhanças e por isso existe a confusão de nomes. Como as plantas, em seu habitat são totalmente distintas entre si, torna-se necessário essa explicação para elucidar o porquê de seu nome. Esclarecido esse ponto vamos a história. Esse índio nasceu na Região da Amazônia, no século XV, onde hoje dividem-se os estados de Roraima e Amazonas, na Tribo dos Wapixana (do grupo Aruak). Eles eram a maior poupulação indígena do norte do Brasil, um povo pacífico que evitava a guerra. Durante séculos, sua tribo foi atacada diversas vezes por etnias de outras áreas, principalmente pelos Karibs. Para defender-se dos ataques, eles subiam nas árvores mais altas e lá permaneciam por dias. Possuíam muita agilidade para escalar cipós titicas e para ocultar-se dentro da água usando os juncos como esconderijo. Desde criança ele gostava de se balançar nos cipós titicas e mergulhar no meio dos juncos dos algados. A tribo dizia: "Esse menino parece um Nhun Bituva, um Nhun Peri (junco verde), ora pendurado nas árvores, ora escondendo-se nos alagados." E assim, ele recebeu seu nome: Junco Verde (Nhum Peri Bituva). Ele sabia trançar as fibras e fazer cordas, com as quais laçava os tatetos e os jacarés; era ágil para subir em árvores, armar redes e emboscadas. Quando sua tribo era atacada, ele usava o laço em armadilhas diversas para evitar a aproximação do inimigo. E assim Junco Verde cresceu e tornou-se um exímio caçador e um grande guerreiro. Casou-se cedo com "Irupé" (que significa Vitória Régia na língua indígena); ela era filha do chefe da tribo e eles tiveram três filhos - dois meninos e uma menina. Nhum Peri Bituva e Irupé foram muito felizes por quase quinze anos. Mas, como nada dura para sempre, sua tribo foi surpreendida durante a madrugada por um grupo de índios desconhecidos para eles, os Astecas. Os Astecas eram totalmente vorazes e organizados em suas empreitadas. Dominavam as tribos mais pacíficas, derrubavam tudo o que encontravam pelo caminho e escravizavam outros índios. Irupé viu seu marido e seus filhos serem levados para serem oferecidos ao Deus Sol. Ela e sua filha pereceram em solo Wapixana, após serem brutalmente atacadas. Durante a marcha para o Império do Sol dos Astecas, Nhum Peri conseguiu libertar seus filhos e ajudou-os a fugir para mata. Mas, seu sacrifício lhe custou a própria vida, pois foi ferido por uma lança e depois esquartejado. Seus pedaços serviram de alimento aos cães que acompanhavam a procissão indígena. Os filhos de Junco Verde conseguiram embrenhar-se nas matas e foram acolhidos por uma tribo Maiongong. No Plano Espiritual, Irupé, Nhum Peri Bituva e a filha, encontraram-se no Reino de Jurema. Juntos eles viram uma nova terra florescer e outros povos chegarem. Tornaram-se acompanhantes espirituais dos índios que pereciam em combate contra a própria raça ou contra os homens brancos. Muitos anos passaram... Irupé reencarnou na Europa para viver uma nova experiência. A filha renasceu em solo brasileiro e tornou-se uma das primeiras mulheres abolucionistas do Brasil. Junco Verde permaneceu trabalhando na Jurema e auxiliando a Aruanda de todos os povos. Quando a Umbanda surgiu como religião, Junco Verde foi chamado a contribuir com seu conhecimento e sua dedicação.